Friday, July 6, 2007

Resumos

Povoados, monumentos e ideias, no Neolítico alentejano

Manuel Calado

A distinção conceptual entre povoados e santuários ou, dito de outro modo, entre o quotidiano e o ritual, no contexto das sociedades neolíticas, não é fácil, nem é, em muitos casos, suficientemente operativa.
No Próximo Oriente, crisol das mutações cuja deriva para ocidente – seja qual for o modelo defendido – parece estar na origem do Neolítico europeu, a fronteira entre santuários e povoados é muito ténue ou mesmo inexistente: os santuários são edifícios integrados na malha urbanística das aldeias ou, frequentemente, são compartimentos dentro de edifícios de teor habitacional. Na verdade, como se sabe, essa indiferenciação espacial é extensiva ao universo funerário.
Aparentemente, poderíamos encontrar no neolítico algarvio uma situação semelhante: de facto, a investigação levada a cabo, nas últimas três décadas, à volta do tema dos menires, levou à criação do conceito de "povoados com menires", expressão que, implicitamente, sugere uma certa coincidência cronológica e funcional entre uns e outros; no entanto, apesar das aparências, resta saber até que ponto os dois elementos da equação foram efectivamente contemporâneos.
Pelo contrário, no Alentejo Central, os dados disponíveis sugerem um modelo dicotómico, em que povoados e menires ocupam opções distintas e, aparentemente, complementares, na paisagem regional.
Os povoados do Neolítico antigo aparecem, quase sem excepções, imbricados com os afloramentos graníticos de maior entidade paisagística, fenómeno que, aliás, facilitou, nos últimos anos, a identificação de uma rede de povoamento neolítico absolutamente surpreendente, sobretudo se considerarmos que, até meados dos anos oitenta do século passado, não se conhecia, nesta área, um único exemplar. A articulação dos povoados com os "monumentos naturais" – geralmente organizados sob a forma de caos de blocos - evoca, naturalmente, uma relação simbólica com os monumentos megalíticos propriamente ditos.
Em contrapartida, os menires e, sobretudo, os monumentos mais complexos – os recintos megalíticos – foram implantados, por norma, em locais onde os granitos não afloram, quer se trate de terrenos de gneiss, quer de terrenos sedimentares; isto apesar de os menires, sem excepção, serem feitos de granito.
Investigações recentes nos arredores de Mora vieram revelar a existência de um outro padrão, em que tanto os menires como os povoados, apesar de discretos, se localizam fora dos terrenos graníticos, embora, num caso e noutro, nas suas proximidades imediatas.
Pretende-se, neste trabalho, fazer um ponto da situação sobre as eventuais relações entre o sagrado e o profano, no Neolítico alentejano, tendo como ponto de partida a distribuição espacial dos povoados e dos santuários, tendo, como pano de fundo, a problemática dos papéis desempenhado, no processo de neolitização, quer pelo substrato indígena, quer pelos contributos oriundos, em última análise, do Mediterrâneo oriental.
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Povoados, artefactos e ideias, no Neolítico alentejano
Mariana Diniz

1.Povoados no Neolítico alentejano
Breve história da investigação
Modelos de implantação espacial
Organização interna do espaço de habitat: estruturas e áreas funcionais

2. Artefactos no Neolítico alentejano
Matérias-primas e territórios de obtenção de recursos
Cadeias operatórias (pedra lascada/pedra polida/cerâmica)
Tipologia e funcionalidades

3. Ideias no Neolítico alentejano
O lugar do simbólico nos contextos domésticos
A quotidiana repetição dos gestos e a criação de uma matriz cultural
A heurística das fontes: análise tafonómica no registo das ideias

4. Ideias sobre o Neolítico alentejano
Ainda antes das paisagens megalíticas? Modelos de neolitização e cronologias
Outros tópicos na agenda: a difícil reconstituição das paleo-economias; o Neolítico alentejano e a “revolução demográfica”; necrópoles e habitats: uma “relação impossível”?
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Megalitismo e Arte rupestre no Norte Alentejano
Jorge Oliveira

No Norte-Alentejano conhecem-se mais de seiscentos e cinquenta sepulcros megalíticos, dois cromeleques, uma vintena de menires isolados, quatro núcleos de arte rupestre, vários afloramentos, maioritariamente, decorados com covinhas e diversos habitats megalíticos.
Nesta apresentação tentar-se-á fazer um balanço e síntese do estado do conhecimento destas realidades arqueológicas e as suas possíveis inter-relações crono-culturais.
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Arte rupestre e mundo natural,
um espaço de reflexão e interpretação
Lara Bacelar Alves

A ‘arte rupestre’ afeiçoa e simultaneamente molda-se a um elemento fixo e permanente na paisagem -o substrato rochoso- no entanto, familiarizámo-nos a ‘olhar’ gravuras e pinturas rupestres como desenhos em fundo neutro, reflexo de uma agenda de investigação que privilegiava a análise morfo-tipológica de motivos individuais. Ao longo da década de 1990, a Arqueologia da Paisagem e Antropologia da Arte inspiraram uma nova geração de estudiosos. Paulatinamente, o ‘espaço’ cede lugar à ‘paisagem’, os ‘motivos’ perdem primazia como entidade analítica ‘de per si’ e a contextualização das ‘composições’ abre-se às cenografias (físicas e imaginadas) que emanam do mundo natural. Nesta apresentação, percorrem-se alguns dos novos espaços conceptuais de interpretação da arte rupestre, inquirindo acerca das motivações que conduziram muitos investigadores a re-orientar o olhar das grafias para a paisagem e como se assiste, actualmente, a um regresso à análise do que se encontra ‘inscrito’ na face da rocha. As leituras emergentes tendem a focalizar-se na relação da arte rupestre com as propriedades intrínsecas do suporte e com os elementos, valorizando ainda o papel das percepções sensoriais na experiência física dos sítios. A estas abordagens não será certamente alheia a influência de estudos de índole antropológica e etnográfica do que convencionalmente designamos «manifestações artísticas» mas a que Alfred Gell prefere apelidar de «técnicas de encantamento». Ao invés de proceder a uma sistematização exaustiva das propostas teóricas recentes, procurar-se-á estimular a reflexão sobre esta temática ao considerar uma selecção de «casos de estudo» dedicados à arte rupestre holocénica europeia.
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Arqueoastronomia no Neolítico Alentejano: uma síntese
Cândido Marioano da Silva

Para o Homem do Neolítico o Céu faz parte da paisagem (Ruggles). Uma análise do relacionamento do homem com a paisagem envolvente não pode pois ignorar o Sol e a Lua, e as estrelas em geral. Para isso torna-se portanto necessário apreender de forma concreta e segura a realidade subjacente, isto é, os princípios e a variabilidade de manifestações que se podem observar no Céu e que porventura se tornaram progressivamente mais evidentes à medida que o processo de sedentarização se estabeleceu.

Perceber que o que se observa depende de a Terra girar em torno dum eixo, de a Lua girar numa órbita plana em torno da Terra, e de a Terra girar numa órbita plana em torno do Sol. Que as estações dependem do eixo da Terra estar inclinado em relação ao plano da órbita da Terra. E que o Sol nasceria sempre na mesma posição no horizonte se esse eixo não estivesse inclinado. E ainda que a aparente complexidade do movimento da Lua também depende da inclinação do plano da sua órbita.

Compreendidos estes conceitos básicos, mesmo de forma simples e qualitativa, a inspecção sistemática de um apreciável número de monumentos megalíticos no Alentejo Central parece sugerir a existência de alguns locais como bons candidatos a uma valorização simbólica da paisagem relacionada com a diversidade dos movimentos celestes. Em particular, da importância do Sol e da Lua em momentos significativos dos ciclos da natureza, e da relação destes com a vida do Homem.
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Cuatro ensayos (Seis Milenios) de Astronomía cultural: de las antas alentejanas a la mezquita de Córdoba
Juan Belmonte

Durante milenios la astronomía, en su vertiente cultural, ha sido uno delos pilares básicos dela civilización. Desde las primeras construcciones hasta la actualidad,los edificios públicos, tantoreligiosos como profanos reflejan la visión del cosmos de susconstructores. Esto es especialmentecierto en el caso del fenómeno megalítico.En un viaje de 6000 años que nos llevará desde el SW de la PenínsulaIbérica al Valle del Guadalquivir, pasando por la islas delMediterráneo, el Pacífico y el Valle del Nilo, revisaremos como laobservacióndel cielo jugó un papel fundamental en la orientación de las estructurasarquitectonicas tanto en el espacio como en el tiempo, desde las sencillas antas hasta las elaboradasmezquitas de Al Andalus,sin olvidar los talayots, las nuraghas, los ahus o las piramides.
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Megalitismo Pós-Megalítico na proto-história alentejana
Rui Mataloto

A tradição de investigação da Pré e Proto-História alto alentejana de há muito que criou um amplo fosso entre ambos territórios. Esta tradição, bastante evidente e característica da perspectiva histórico-culturalista, apenas em momentos recentes se começou a dissipar, talvez devido a uma abordagem menos artefactualista, resultado de novas abordagens teóricas.
Apenas em raros casos a investigação pré-histórica se aventurava para além do final do IIIº milénio a.C., enquanto que os poucos investigadores da proto-história alentejana nunca recuavam para os seus primórdios, tornando o território alto alentejano, nos mais antigos momentos da Proto-história, uma “Terra de ninguém”, um “Finisterrae”, de que se começam, apenas agora, a traçar as primeiras linhas.
Território perdido nos confins de um Sudoeste definido para o tempo do “Bronzezeit”, o Alto Alentejo foi sempre entendido como o prolongamento, mais ou menos definido, das entidades que o rodeavam durante o IIº milénio a.C., a Estremadura poderosa e “metálica” a Poente, e um Sul “cistóide” e gregário.
A ausência deliberada da Proto-história nas grandes monografias de Georg e Vera Leisnar, pelas dificuldades que tal levantava aos rígidos esquemas histórico-culturalistas, deixou um vazio enorme, que sabemos hoje ser apenas aparente.
Por outro lado, como já se avançou, o “Bronzezeit” fez-se principalmente para territórios mais a Sul, talvez pela ausência de informação acessível, cedida por homens como Abel Viana. Talvez a extensa sombra de Manuel Heleno, que pairava por amplas áreas do Alto Alentejo, tenha sido verdadeiramente dissuasora da investigação de H. Schubart, que conteve o seu “SudWesten” no paralelo de Évora, justamente onde começava a acção mais directa do então director do Museu …
Efectivamente, já no início dos anos 70 H. Schubart aludia, numa pequena nota de pé de página, à relativa frequência de cerâmicas da Idade do Bronze em contextos megalíticos, em particular na região de Elvas, onde Abel Viana mais directamente tinha agido.
No entanto, ironia do destino, serão justamente as grandes monografias do casal Leisner que nos permitem, hoje, entender a dimensão do fenómeno das continuidades de utilizações do espaço megalítico, bem patente nas presenças cerâmicas, cada vez mais sustentadas por um crescente quadro de cronologias radiocarbónicas.
Intentar-se-á com este trabalho lançar a discussão sobre as presenças proto-históricas em contexto megalítico, primeiro desde uma perspectiva diacrónica, e posteriormente cultural, partindo da reanálise da informação disponível quer nas grandes monografias já clássicas, quer de trabalhos mais recentes.
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Memória da investigação sobre o megalitismo
Leonor Rocha

A história da investigação sobre o megalitismo funerário alentejano, no século vinte, foi marcada, de forma indelével, pelo contributo de Manuel Heleno.
A personalidade controversa do antigo director do Museu Nacional de Arqueologia e a forma como se relacionou institucionalmente com os arqueólogos seus contemporâneos, criaram uma imagem negativa que acabou por ser fortemente confirmada pela ausência de publicação dos resultados dos trabalhos que dirigiu e pelos entraves que, por decisão sua, foram colocados à análise desses resultados pela comunidade dos megalitistas portugueses.
No entanto, como seria de esperar, uma avaliação desapaixonada do seu contributo, agora que os seus cadernos de campo foram finalmente resgatados, permite paliar, até certo ponto essa imagem negativa que, em última análise, lhe sobreviveu: Manuel Heleno registou (e, ao fazê-lo, salvou para o conhecimento científico) um número muito significativo de monumentos que a voracidade do tempo e a insensibilidade dos homens fizeram desaparecer sem remissão.
Devemos-lhe hoje, na verdade, muito mais do que o esclarecimento dos problemas científicos que se propôs declaradamente esclarecer (e que, na verdade, continuam, em boa parte, ainda hoje, em aberto). Os materiais depositados no MNA e o registo, mesmo que deficiente, dos contextos de onde provêm, constituem um manancial de informação científica que demorará, provavelmente, gerações a avaliar e organizar.
Neste trabalho, far-se-á uma síntese ponderada dos principais aspectos positivos do legado de Manuel Heleno, à luz das perspectivas actuais em torno do estudo do megalitismo alentejano.
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Testemunhos megalíticos. Usos e memórias no presente
Catarina Oliveira

Como são pensados os testemunhos visíveis do passado na memória e imaginário das populações?
Como interagem na produção dos significados, os arquétipos, as estruturas do imaginário e contextos históricos?
Como se relacionam nesta construção e percepção do tempo e do passado, diferentes temporalidades, escalas
e instrumentos de medição do tempo e coexistem diferentes níveis de profundidade?
Como, enquanto lugares de memória e marcas temporais, se articulam com os processos de constituição
e reconfiguração da identidade histórica e social?

Quando o arqueólogo anda no campo com o objectivo de identificar sítios arqueológicos, reconhece a importância das informações dos habitantes locais sobre o território. Nomes de lugares como cabeço do mouro, casa da moura, castelos velhos atalaia, pedras velhas, ou histórias sobre mouros, minas ou tesouros escondidos, túneis, pedras com encantamentos, abrigos de pastores, podem ser fundamentais para a localização de sítios arqueológicos como antas, menires, sepulturas, povoados.
Estes discursos sobre o território e sobre os testemunhos antigos encerram, no entanto, outro tipo de informação menos estudada por arqueólogos e historiadores. São fundamentais para compreendermos como as pessoas conferem memória aos lugares do território que habitam, constróem representações do tempo e do passado e definem a sua identidade.
Apropriando-se dos objectos culturais passados, as sociedades tornam-nos inteligíveis e deles fazem sentido e uso em determinados momentos históricos, por outras palavras, "domesticam" o passado.
Os monumentos megalíticos, pela sua forma, materiais de construção e visibilidade na paisagem, estimularam o imaginário das populações que se sucederam ao momento da sua construção na Pré-História e têm sido reinterpretados em novos contextos. Ao longo dos anos, construíram-se em torno dos monumentos - entendidos como lugares de memória - múltiplos discursos. Fixaram-se na paisagem, toponímia, cultura material, tradição oral, imaginário, memória colectiva, usos quotidianos e, algumas das vezes, nos documentos escritos.
Na realidade, por toda a Europa, nas sociedades rurais, as antas continuaram associadas a tradições e usos diversos. Umas foram reutilizadas como espaços de abrigo de homens e animais ou armazenamento de bens, como marcos de divisão de propriedades, freguesias e concelhos (o que aconteceu também com os menires), ou foram ainda destruídas para aproveitamento dos seus esteios em muros ou portões de herdades. Outras, foram transformadas em templos cristãos, como a Anta capela de N. Sra do Livramento em Montemor-o-Novo, ou a Anta de S. Dinis em Pavia (Mora), testemunhando a sucessiva sacralização de antigos lugares de culto. Na tradição oral, aparecem associadas a mouros e mouras encantadas, habitantes de mundos subterrâneos, guardadores de ouro e possuidores de poderes mágicos.
O problema aqui levantado quando se questionam os testemunhos megalíticos será não tanto procurar a ideia por detrás da sua criação, mas antes compreender a forma como significam e as leituras que estimulam no confronto histórico com os seus leitores, envolvidos em processos plurais de produção de significados.
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O Complexo «megalítico» de Alcalar
Um conjunto monumental do 3º milénio ane no extremo Sul de Portugal
Rui Parreira[1]

No Barlavento do Algarve, no Concelho de Portimão, a meio caminho entre os areais do Alvor e o sopé da Serra de Monchique, junto ao actual lugarejo de Alcalar, existiu um vasto habitat, hoje totalmente soterrado mas do qual subsistem restos de estruturas que se estendem por uma superfície de aproximadamente 20 hectares. Desde os finais do 4º, e ao longo do 3º milénio ane, esta macro-aldeia consolidou a sua situação de centro hegemónico num território habitado por diversas comunidades, dispersas, em pequenos povoados, nas margens da Ria de Alvor, no Barrocal e nas vertentes meridionais da Serra de Monchique: uma paisagem antropizada que se estendia pelo hinterland da orla marítima, atravessada, de norte a sul, pelas ribeiras da Torre, Farelo, Arão e Odiáxere. Marcado pela antiga ria flandriana do Alvor — então um profundo braço-de-mar entalhado na Baía de Lagos —, este território oferecia uma ampla gama de recursos, aproveitados pelos grupos humanos que ali habitaram entre o 5º e o 2º milénios ane.
Embora numa posição periférica relativamente aos centros de poder calcolíticos do Sul e Oeste peninsulares, as elites dirigentes das comunidades e do território de Alcalar, mantiveram com eles relações políticas, promovendo-se socialmente através da segregação das áreas de vivenda e de armazenagem da produção, da monumentalização dos recintos do habitat, da construção de templos funerários monumentais, bem como da ostentação de objectos sumptuários e armas e da manipulação de «produtos ideológicos».
As áreas de vivenda privilegiada e de armazenagem do povoado calcolítico de Alcalar ocupam um cabeço amesetado, alongado no sentido NE-SW, que se destaca sobre as várzeas envolventes. Mas o habitat prolonga-se para cotas mais baixas e estende-se até uma vasta necrópole monumental polinucleada que constitui com o habitat uma só unidade orgânica, e que, pelo seu lado norte, forma como que uma cintura protectora, com os seus agrupamentos de edifícios monumentais e áreas cerimoniais conexas. São cerca de duas dezenas de templos funerários com mamoa de planta centralizada, edificados ao longo de várias gerações e destrinçáveis entre si pelo eclectismo das soluções arquitectónicas usadas para a sua construção.
De há muito classificado como Monumento Nacional, este notável conjunto patrimonial, tem vindo a ser explorado desde a sua descoberta, em 1880, por diversos arqueólogos, em momentos diferentes. Directamente relacionados com o povoado de Alcalar, identificaram-se quatro agrupamentos funerários, em Vidigal Velho (= Monumentos 12 e 13), Alcalar Oeste (= Monumentos 8, 11, 14 e 15), Alcalar Centro (= Monumentos 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 10) e Alcalar Este (= Monumentos 7 e 9). Alguns destes edifícios monumentais foram explorados nos finais do século xix e na primeira metade do século xx – por Nunes da Glória (Alcalar 1 e 10), Estácio da Veiga (Alcalar 2 a 7), Pereira Jardim (Alcalar 8 e 9), Santos Rocha (Monte Velho 1 a 3) e José Formosinho (Alcalar 11 a 13) – tendo nós procedido desde finais do século passado (1986) à re-escavação e reabilitação dos monumentos do agrupamento Este (Alcalar 7 e 9).
Plausivelmente articulados com outros tantos núcleos habitacionais periféricos, localizam-se os ambientes funerários «segregados» na periferia do centro hegemónico. Nestes, haverá que destacar os edifícios tumulares de Monte Velho (núcleo funerário com três sepulcros de tholos). Mas parece-nos relevante uma outra área sepulcral, em Monte Canelas, com um conjunto de pelo menos quatro hipogeus como espaços de tumulação colectiva, totalmente escavados na rocha e aparentemente desprovidos de monumentalidade edificada, bem como o uso funerário das cavidades naturais, também elas normalmente usadas como espaços de tumulação colectiva, no Serro do Algarve (onde foi explorada a caverna da Mulher Morta). Em Poio localizou-se também um provável túmulo de tholos e um sepulcro de tipologia incerta, que pode eventualmente corresponder também a uma cavidade natural.
No quadro das relações suprarregionais do 3º milénio ane, o complexo «megalítico» de Alcalar ocupa um lugar destacado no Sudoeste da Península Ibérica, cuja salvaguarda abre vastas possibilidades para o estudo e compreensão do processo de formação dos estados prístinos no espaço atlântico-mediterrânico.

[1] Arqueólogo da Direcção Regional da Cultura de Faro, coordenador do projecto de salvaguarda e valorização do Conjunto Pré-Histórico de Alcalar. Endereço electrónico: rparreira@ippar.pt

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Paisajes megalíticos en el Sur de España: tres estudios de caso, Aroche (Huelva), Almaden la Plata (Sevilla) y Antequera (Malaga).
Leonardo García Sanjuán

En esta conferencia presento una síntesis de algunos de los resultados obtenidos en las investigaciones que vengo desarrollando sobre paisajes megalíticos del Sur de España desde el año 2000. Se presta particular atención a tres cuestiones de importancia en la configuración de la noción de paisaje: la prominencia visual y orientación, la relación con el medio natural derivada de la utilización de materias primas específicas en los ajuares y materiales constructivos, y la permanencia temporal (reiteración de uso de los espacios y monumentos megalíticos). Se utilizan ejemplos documentados tras investigaciones de campo realizadas en Aroche (Huelva), Almadén de la Plata (Sevilla) y Antequera (Málaga) por las universidades de Sevilla y Southampton.

Abstract

In this talk I shall present a synthesis of some of the results obtained in the research I have carried since 2000 on the topic of megalithic landscapes in southern Spain. Particular attention will be paid to three issues of special importance in the definition of the notion of landscape: (1) visual prominence and orientation, (2) relationships with natural environments as suggested by the use of specific materials for both grave goods and constructive elements, and (3) temporal permanence (re-utilisation of megalithic monuments and spaces). Examples will be taken from fieldwork and analytical studies arried out in Aroche (Huelva), Almadén de la Plata (Sevilla) and Antequera (Málaga) by the universities of Sevilla and Southampton.
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1 comment:

york said...

please contact 914006445